O templo do céu sendo reeguido |
Assim como Aensell lhe dissera, Lady Lisbeth cravejou Vittoria no alto do monte escarpado e a lâmina adentrou a rocha como uma chave entraria numa fechadura. A resposta imediata foi um tremor que se estendeu metros ao redor do ponto abrindo fendas que serpentearam para todos os lugares. Jafari se afastou temendo o pior – cair num abismo, talvez – mas Aensell não recuou um passo sequer.
A rocha se transformou, abrindo-se como um casulo e formando uma estrutura que aos poucos ganhava contornos. Uma escadaria, monolitos retilíneos, paredes incrustadas com símbolos angélicos e finalmente uma antiga representação de Lorde Splendor.
─ É o templo no céu ─ surpreendeu-se Jafari ─ a prisão de Santo Fectos.
─ Quase, Jafari ─ complementou Aensell ─ agora ela será um símbolo de libertação e o arrependimento de um curará as máculas criadas por outro.
Aensell ergueu as mãos e as rochas flutuaram. Abaixo do templo do céu, parte do chão desabava, formando uma geografia íngreme, como a de um canyon. Monolitos, pedras e poeira alcançaram o céu, as nuvens partiram e deixaram que o sol atingisse o lugar com uma luz dourada, um zênite brilhante e santo.
─ Nós chamaremos este lugar de Zenith, a nova casa da religião da Cruz-espada ─ explicou Aensell ─ e os angélicos cujas almas ficaram dispersas nas estrelas até então, terão uma nova oportunidade de ingressar neste mundo.
─ Os mártires consagrados retornarão? ─ questionou Jafari deslumbrado.
─ Somos incapazes de criar corpos santos como Splendor criara outrora, mas existe uma solução na fronteira deste reino. Um novo tipo de conhecimento alheio à magia arcana ou mesmo à divina, que acabou se mostrando uma opção resistente à praga da morte-vida.
Zenith, então, foi fundada.
***
Lufahic teve toda a permissão de gastos para seu mais novo projeto. O gnomo perdera algumas chances de mostrar sua genialidade devido aos constantes ataques da Mortalha. O projeto de sua vida, o qual nomeara de porto-caverna e cuja ideia baseava-se na criação de um porto que ultrapassava as Montanhas de Mármore em direção ao mar do norte, foi arruinado depois que os Bosques Rubros ladearam a antiga Brastav impedindo que as montanhas fossem, enfim, alcançadas.
Ele, entretanto, reconhecia agora que sua nova invenção era muito mais grandiosa e infalível. Chamava-se caravana mecânica e tratava-se de um transporte repleto de vagões, construído no aço e magia, e que interligava o reino de Dechaeon à Azran inteira, até o Farol, passando pelas redondezas da nova cidade de Zenith.
Antes disso tudo ─ antes de contratar a mão de obra ou mesmo antes de desenhar o primeiro projeto da caravana mecânica ─ Lufahic surpreendeu-se quando foi chamado pelo próprio Barão da Máscara de Ferro, a entidade mecânica, associada à Divina Engrenagem, que rege o reino de Dechaeon, para concretizar uma grande invenção.
O termo dissonância harmônica é bastante familiar entre os gnomos e durante muito tempo tentaram criar algum conceito sobre sua existência ─ sempre questionáveis ─ mas para os gnomos que já haviam sido tocados por ela, a explicação é muito simples: trata-se de uma entidade, a denominada Divina Engrenagem, compartilhando seu conhecimento e inventividade com os representantes mais dignos. Assim, os gnomos que repentinamente foram acometidos por uma epifania e passaram seus dias trancafiados em laboratórios elaborando as invenções mais geniosas explicavam o momento como sendo uma bênção da divindade mecânica ─ que, por vezes, sem aviso prévio, abandonava a mente do indivíduo e a fonte interminável de conhecimento que brotava de suas mentes repentinamente secava.
Assim, quando Lufahic entrou em contato com o Barão da Máscara de Ferro, e quando aceitou elaborar o projeto do transporte mecânico, sua mente foi invadida por uma inspiração inigualável que resultou na criação da linha férrea. Produtos começariam a ser comercializados entre os reinos de Azran e Dechaeon e obviamente uma aliança também seria forjada.
Esta era a pretensão da Rainha Lisbeth. Os inventores de Dechaeon precisam de matéria prima para suas criações, visto que seu pequeno reino é escasso, enquanto Azran precisa urgente dos forjados de batalha para usá-los na Forja de Zenith. Incrustados de símbolos angélicos, os forjados são devidamente preparados para receber um espírito de luz que carregará a missão da igreja da Cruz-espada.
Assim deu-se início a criação dos forjados consagrados.
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Forjado consagrado |
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