Acontecem em dez anos, no reino de Chattur'gah - Parte 03 - O banquete

 Aconteceu dentro da narrativa:

Adrhaim liberta Ivory da Floresta de Espinhos, então, com a ajuda das águias gigantes eles chegam em Hefasto. Lá, Adhraim se afasta do grupo para iniciar sua jornada pelo Inferno de Hefasto enquanto Ivory se alia à Ithias para desvendar os segredos das ruínas dos gigantes de outrora.

Ivory é levada por Ithias à Kaiross, uma figura druídica popular do reino de Chattur’gah que expressa um comportamento um tanto excêntrico, especialmente levando em conta a natureza psicopata de seus diálogos (como quando retrata Ivory como uma doce e saborosa refeição). Ivory tem o desafio de enfrentar um poderoso servo de Sarrash, o corruptor, nos portões da ruína, mas quando finalmente confronta a criatura é derrotada, aprisionada e levada à Ankhashadalûr, o lar dos bárbaros de dentes serrilhados, agora governado pelo próprio Sarrash.

 

Ankhashadalûr

Aconteceu fora da narrativa:

            Homens robustos carregavam os caldeirões de sangue do topo do zigurate até a vasta população de bárbaros com dentes de piranha que se mantinha caótica e aos berros diante a cerimônia ritualística que ocorria naquela noite. Ossos eram arremessados para o alto e cuspidelas escarradas no chão. Do alto das torres menores que circundavam o zigurate central, mulheres grávidas uivavam para as piras em chamas que eram regularmente alimentadas por elas mesmas. Os tambores e cornetas ressoavam sem ritmo constante, apenas cacofonia, e um bando de aves carniceiras pousava nos varais de carne e nos alicerces das construções arruinadas pelo tempo e mau cuidado.

            No ponto mais alto de toda arquitetura, Sarrash, que detém a alcunha de “o corruptor”, vestia sua máscara, é esta uma caveira cuja natureza mórbida e profanada permitiu se erguer, sobrenaturalmente, galhos firmes e tortuosos que mais pareciam com os chifres do demônio. Estes nunca paravam de sangrar o sumo das vítimas que um dia tiveram suas vidas roubadas pela magia do corruptor. De seus pés escorriam centenas de larvas e besouros que exalavam a constante e indissipável podridão da morte.

Então, Sarrash ergue as mãos de dedos afiados como os das águias e vocifera. Sua voz ecoou como o som de uma montanha desabando e o terror imediato fez com que todos presentes se calassem. Ele acenou com a cabeça e os bárbaros de corpos robustos, tingidos com uma inquestionável pintura de guerra, despejaram os caldeirões de sangue no chão, junto a muito barro e osso. Havia, junto ao sangue, vísceras e restos mortais de incontáveis vítimas, guardados especialmente para aquela cerimônia.

            Das torres ao redor dos zigurates, figuras estranhas e sombrias, cada uma trajando uma máscara macabra que representava alguma entidade morta cultuada em Ankhashadalûr, desciam as escadarias em direção ao lago de sangue que havia sido criado no centro de tudo, cada uma destas digna de uma aparência manchada pelo mal e perversidade, notavelmente diferentes entre si, mas sempre com algo em comum: todos estavam constantemente cercados de moscas e verrugas. A população imediatamente se afastou concedendo passagem aos seis estranhos. Diante do lago de sangue, estas figuras se ajoelharam e mergulharam suas mãos no acúmulo de restos mortais, juntando sangue, vísceras e lama para então passar este elixir da maldade no corpo espalhando a cor vermelha na pele. 

Sarrash, o corruptor

 

Sarrash sorriu, regozijado com a cena, em seguida caminhou até uma mesa especialmente montada para ele, era o seu banquete, e neste lugar, suas mulheres, marcadas por cicatrizes horríveis que lhes deformava o corpo, aguardavam para levar à boca do corruptor os petiscos da noite.  O prato principal foi o primeiro servido: uma cuia feita de casca de árvore contendo o coração de um mortal com suas veias e artérias cuidadosamente aparadas. Sarrash cravou suas garras no coração e a civilização de Ankhashadalûr urrou fanática enquanto ele vagarosamente erguia o conteúdo para o céu noturno de nuvens encharcadas, então, mais uma vez Sarrash gritou e o silêncio e a tensão caíram sobre todos.

            Os bárbaros de dentes serrilhados observavam apreensivos como se algo muito esperado fosse acontecer e o silêncio permaneceu durante quase um minuto até que todos ouviram o primeiro retumbar vindo do coração. Ele pulsou uma segunda vez e seu batimento soou mais forte e ecoante. Não demorou, então, para que o coração se enchesse e secasse de sangue como se ainda estivesse filtrando a vida de um ser. A onda de loucura e fanatismo voltou a desquietar a civilização de Ankhashadalûr.

Sarrash abriu a boca e os ossos de sua mandíbula se expandiram de forma monstruosa para que o coração inteiro pudesse caber, em seguida, suas presas começaram o serviço, mastigando o órgão que esguichou litros de sangue escorrido por trás da máscara de demônio.

Os bárbaros de dentes serrilhados, empurrando uns aos outros num ato de violência gratuita, jogaram-se sobre o sangue derramado dos caldeirões e deliciaram-se com a parte da cerimônia reservada a eles, contaminando tudo com uma orgia agressiva e doentia.

Os restos de Ivory, então, desceram pela garganta de Sarrash e arderam em seu estômago. O banquete estava iniciado.

 

 

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