O último soneto jamais cantado

[texto escrito por Mathariel]

No momento me sentia consolado, pelo menos estava ao lado dela. Ela não sabe mas é o combustível para minhas músicas. Vi ela em batalha e tentei protegê-la, mas não fui capaz. Em um momento ela estava em pé, brandando uma espada na tentativa de me defender para que eu continuasse a tocar e dar ordens aos que estavam engajados na matança, e no outro ouvi o primeiro baque no chão, deduzi ser o som do corpo do inimigo caído, depois outro baque, esse mais leve e sutil. O mundo ficou mudo. Larguei meu instrumento. Olhei, fiquei cego de lágrimas. 

A mão de Kine esticada em minha direção, como quem pede ajuda, mas infelizmente eu não era capaz de ajudar, eu não era capaz de nada... Como sempre. Sua cabeça em minhas pernas, minha mão em seu torso. Sangue e tripas se misturavam. O mundo só tinha uma coloração: Vermelha. A cor que antes me representava algo tão bonito e enérgico, agora só me lembra dor e tristeza. Os olhos dela semicerravam enquanto, sorrindo, tentava sussurrar a última coisa. Mais uma vez fui incapaz, não consegui entender o que ela dizia. Seus olhos se fecharam. Kine jazia em meus braços. O mundo era cinza. O mundo era frio. O mundo era cinza e frio. Eu estava fatigado, sem energia.

O mundo voltou a ganhar sons, olhei a minha volta e todos estavam caídos, eu era o único que restava. Não havia mais o que fazer, Kine estava morta e o que ela morreu tentando proteger também. Abaixei a cabeça para encarar seu belo rosto, abracei-a sem a intenção de soltar, ainda restava um resquício de calor em seu corpo. Logo acabou.

Passos. 

Morreria ao lado dela.

Foi um tempo bom, os momentos que passamos juntos jamais deixarão minha memória. Me arrependo de nunca ter dito a ela. Mas direi logo.

Uma mão no meu ombro buscou me levantar. Ergui a cabeça com um olhar incapaz, era uma mulher, muito maior que uma humana, porém seus gestos e olhar delicados contrastavam-se com a imponência de um gigante. Ela disse-me: "Levante-se, você ainda tem algo a cumprir."

Hela d'Helm, esposa de Bahamut

Mesmo sem querer me levantei. Sabia minha próxima parada: era chegada a hora de conhecer as maçãs douradas.


Postar um comentário

0 Comentários

Close Menu