Anos incontáveis antes da primeira era cuja civilização humana predominou, havia os deuses primordiais e sua insaciável sede pelo novo. Amados pelos mortais que os idolatrava, alguns desses deuses retribuíram esse amor e conviveram nas terras daqueles que eles chamavam de almas transitórias, os comparsas de suas naturezas divinas. A maioria das vezes as visitas eram misteriosas e não reveladas, entretanto houveram algumas destas cujo tempo fez questão de tornar eterna na história e dentre os relatos mais conhecidos está o romance de Gaiëha, a deusa dos elfos e Celedris, o senhor da Ordem Arcana de Mordae.
Creditada pelo seu espírito de liberdade e disponibilidade em arriscar a romper ciclos, Gaiëha fez o que nenhum outro deus primordial havia feito antes: apaixonou-se por um mortal da forma mais genuína que se permitiu. Celedris foi um humano esperto, digno de ser notado, com uma inteligência tão afiada quanto sua simpatia, agradava os governantes com seus discursos de autodeterminação e independência, tanto que aos poucos se tornou especial no coração da deusa.
Havia tanta esperança no coração de Celedris quanto ingenuidade e esta era uma marca dele que Gaiëha muito apreciava. Seus olhos brilhavam diante as possibilidades que a magia arcana podia lhe revelar. A magia, cedida aos elfos e somente a eles pela própria deusa, estava reservada apenas aos filhos de seu semblante, mas tanta era a bondade e o deslumbre de Celedris por esta que Gaiëha, sendo uma deusa, quebrou sua promessa e entregou os segredos de sua criação para o amante.
Celedris mostrou-se uma estrela ascendente, uma figura que apesar de viver menos da metade da vida de um elfo, compensava a longevidade com um interesse astuto que é típico dos seres humanos. Mostrou à sua amada seus truques e a surpreendeu, deixando-a curiosa e embasbacada, pois as ideias de Celedris se destoavam tanto da dos elfos e ao mesmo tempo pareciam tão claras e corretas que, ao primeiro pedido do amante para divulgar seu conhecimento com os amigos, ela cedeu.
Celedris recrutou os primeiros arcanistas há muito tempo e essas figuras, notando que a teoria e a organização desse conhecimento seriam peças chaves a serem idealizadas para que enfim todo esse conhecimento não pudesse simplesmente se esvair de suas mentes pouco longevas, fundaram as escolas arcanas. Assim nascia a Ordem Arcana e cada aliado de Celedris especializou-se num campo de magia. Juntos eles desvendaram e abriram um leque de opções novas para o arcanismo.
... mas o poder corrompe e nem todos os humanos tinham corações tão incorruptíveis quanto o de Celedris. A magia arcana passou a ser estudada de forma exacerbadamente violenta. Do trunfo que lhes havia sido ensinado, os humanos tiraram magias capazes de confrontar reis, dragões e os gigantes de outrora. Eles venderam seu conhecimento para quem pudesse pagar por ele e enquanto se tornavam mais ricos e poderosos, os povos distantes se destruíam em guerras incessantes usando seus conhecimentos.
Gaiëha, então, virou tempestade e exigiu de Celedris não só que interrompesse todo e qualquer estudo sobre o arcano, mas também que eliminasse cada ser humano que um dia ouvira falar da magia reservada aos elfos. Celedris, embora amasse muito sua deusa, não pudera fazer o exigido. Ele sabia do temperamento da deusa dos elfos e a impulsividade divina responsável pela criação e destruição de muitas vidas. Recusou-se e assim, os amantes tornaram-se inimigos enquanto seus asseclas defendiam os pontos de vistas de seus sêniores.
Poderosa em seu império, Gaiëha, em segredo, debruçou-se sobre seu reinado e, num conflito próprio entre razão e emoção, chorou de lamentação pela perda do amante, depois esbravejou contra a traição do mesmo, acalmou-se enfim e ao relembrar os bons momentos sorriu e alegrou-se, para enfim, decidir que cravejá-lo com a vingança divina seria a escolha mais eficaz diante sua posição de deusa primordial. Foi durante esse misto de sentimentos que o coração e a mente de Gaiëha forjaram seus principais yeshuas, os seres considerados os mais poderosos arcanjos da deusa e líderes de sua vontade em terra.
Deu-se início a uma guerra secular. Gaiëha moldou, a partir de sua raiva, poderosas versões animalescas, lendárias e atrozes da fauna e flora de Ellidoränne para combater a Ordem Arcana. Celedris decidiu resistir de qualquer modo, ele acreditou que o coração inflamado de sua amada fosse curar com o passar das estações, pois sabia que as decisões de Gaiëha oscilavam entre a guerra e a misericórdia. Reuniu-se com a Ordem Arcana, formada pelos nove arcanos mais sábios e poderosos e, então, depois de um cansativo debate tomaram uma decisão que condenaria a história para sempre. O recente império da magia, erguido nas terras de Ellidoränne, que é o lar da raça élfica, deveria se preparar para as constantes investidas dos seguidores da deusa, portanto, a Ordem Arcana arrasou com parte da floresta sagrada dos elfos, raciocinando que nunca teriam vantagem enquanto imersos na terra natal da deusa, num terreno onde os elfos criariam todas as vantagens.
Celedris, que havia dividido a responsabilidade de suas decisões com seus companheiros, apenas aceitou a ideia da maioria e os nove arcanos, além de destruírem a floresta, ergueram uma barreira montanhosa no formato de um anel ao redor do império da magia. Assim nascia Mordae, o reino da Ordem Arcana, cujo nome traduzido do elfo é abreviatura de uma metonímia cujo significado é “lar de prosperidade”.
A criação de Mordae foi a responsável por separar uma longa faixa de território florestal do reino de Ellidoränne. A floresta, que se manteve isolada de tudo durante séculos, sucumbiu ao esquecimento e as vidas que ali persistiram e enfim perderam a luta para o tempo ainda sussurram em um idioma muito antigo. Muitos anos depois, aqueles que puderam ouvir esses murmúrios passaram a chamar o local de Floresta dos Mil Sussurros.
Mesmo mediante a proteção das barreiras físicas e místicas conjuradas ao redor do reino, a Ordem Arcana presumiu que jamais seria capaz de deter a fúria de uma deusa e, diferente de Celedris, que ainda esperava pela sanidade de sua amada, os nove arcanos procuravam por uma forma de vencer a guerra. Nesse meio tempo, muito conhecimento foi aderido à Ordem Arcana, especialmente em relação ao contato com outros planos e semiplanos, onde os arcanos descobriram um universo muito mais complexo do que seu próprio mundo reservava. Os nove sobrepujaram a morte diversas vezes e encontraram uma forma de se tornarem tão longevos quanto os mais sagrados yeshuas.
Apenas muito tempo depois a Ordem Arcana encontrou uma possibilidade plausível, uma aliança que deveria ser forjada com Bahamut, o deus dos dragões metálicos. Nessa época um setor específico de arcanos da ordem, denominados magos brancos, viajaram pelos planos numa jornada que culminaria num encontro com o dragão de platina.
Para a surpresa de muitos, Bahamut aceitou aliar-se à Ordem Arcana com uma condição um tanto questionável: que construíssem seu covil em Draganoth, um império tão grande que guardaria parte de seu infinito tesouro nas terras do continente. Assim, a extensa masmorra (a maior desse mundo) nomeada de Ninho de Bahamut foi construída e cada montanha que acerca Mordae teve seu interior escavado e esculpido durante uma jornada de muitos anos nos quais os senhores da Ordem Arcana invocaram a ajuda de criaturas interplanares e até contaram com o auxílio de lordes anânicos para erguer aquilo que se tornaria o santuário de Bahamut em Draganoth. Dizem que há apenas uma entrada para essa masmorra e ela pode ser localizada num lugar chamado Estreito de Bahamut, uma fina fissura que jaz na fronteira entre Mordae e o atual reino de Nevaska.
Após a conclusão do Ninho de Bahamut, o deus dragão de platina não teve outra escolha a não ser a de conceder o desejo de seus idealizadores. Bahamut, entretanto, é uma divindade extraplanar bondosa e, compadecido da história entre Gaiëha e Celedris, decidiu lutar usando outros meios. Ao invés de morte e destruição seu sopro deu sabedoria à Celedris e compreensão à Gaiëha e os dois, inspirados pela boa aventurança, apaziguaram-se e uniram-se novamente, de uma forma que nunca haviam pensado em fazer antes.
Da nova união surgiram quatro poderosas entidades e estas se tornaram intermediadoras entre os defensores da magia arcana liberal e a magia natural élfica, soprando seus ensinamentos pelo mundo e ateando um sentimento de proteção pelas aldeias e povoados menos protegidos. Entidades geradas através do amor de uma deusa elfa e um humano mortal. Estes são: Rhydia da água, Enlil do ar, Samash do fogo e Ninmah da terra, juntos formam a religião dos Quatro que está se tornando bastante conhecida e disseminada no continente.
A Floresta dos Mil Sussurros, uma das mais antigas de toda Draganoth, se mantém viva, ela guarda e protege as feras que um dia foram idealizadas pelo sentimento de vingança de Gaiëha, estas são incapazes de se unir a outros territórios, delimitam seus terrenos de forma bairrista, mas são indignas de morte, por isso, são respeitadas pelos protetores da floresta, os denominados fantasmas sussurrantes e, um dia, essas criaturas triunfarão sobre um mal indescritível.
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