As profecias esquecidas de Chattur'gah



Os quatro resolveram parar um pouco.

─ É sábio saber quando descansar – falou Laelsen.

                Halig sentou-se sob a sombra de uma árvore e tirou seus calçados para ver seus calos. São três. Derek gosta de apreciar o céu enquanto descansa e Violet certamente ainda tem muito pique, já que decidira caminhar de um lado para o outro analisando tudo, desde os insetos embaixo das pedras aos arbustos de espinhos afiados.

─ Lael, você sabia que aquele golem iria aparecer? – perguntou Halig ─ porque não me falou desde o início. Poderia ter evitado muita coisa.

─ Não é assim que as coisas funcionam, Hal. Depois do acontecido, na minha mente, tudo ficou mais claro. Soube imediatamente porque você teve de vir comigo até aqui, assim como deduzi sobre Derek quando ele liberou a entrada para o Túmulo de Thalladoran.

─ Então, ainda resta Violet nos mostrar suas habilidades, certo? – perguntou Halig e Lael afirmou com a cabeça ─ ...isso me dá calafrios... – o aspirante à paladino revelou ─ ... as habilidades de Violet, sabe? ─ Lael, então, olhou para a pequena incansável e Halig pôde notar o semblante calmo do amigo se tornar o esboço de rigidez. Ele disse:

─ Nas terras de Chattur’gah existe uma profecia: um bebê que nasce numa noite de lua rubra se tornará um indivíduo forte quando crescer, liderará a tribo e conquistará a definitiva vitória sobre os inimigos. Ele representará a guerra.

─ Chattur’gah é uma terra bárbara, cheia de profecias selvagens...

─ Há também outra profecia: um bebê que nasce numa noite de eclipse representará a morte. Sua vontade já será o suficiente para trazê-la. Este trará uma mudança definitiva para tudo.

─ Se ficarmos aqui, sentados, enquanto você cita todas as profecias de Chattur’gah, teremos um longo descanso.

─ Há apenas alguém que será capaz de deter esses dois tipos aventurados...

                Halig, de alguma forma, sempre terminava fisgado pelas histórias de Laelsen:

─ Quem?

─ Um herdeiro.

─ Lael, você está mais misterioso hoje do que em todos os demais dias.

─ Talvez seja o cansaço ─ respondeu ele, sorrindo ─ Mal saberia lhe dizer porque lhe contei isso.

─ Já estou acostumado. Às vezes apenas espero que algo se concretize ao redor das adivinhações que você costuma proferir.

                Silêncio durante um minuto.

─ Então, essa jornada vai lhe ajudar em relação a isso? ─ perguntou Halig.

─ Nem isso eu conseguiria afirmar.

─ Então, porque você dá ouvidos à essas vozes?

─ No rumo da história de Draganoth, ignorar vozes sobrenaturais nunca resulta num final bom. Além disso, essa voz, em específico, deseja me ajudar de verdade.

─ E como você sabe disso?

─ Vocês me conhecem da Inquisição, sempre andando junto aos elfos e aprendendo com eles. Sou uma criança estranha e sortuda para todos, mas a verdade é que eu saí de um buraco mais imundo do que vocês. Um vilarejo chamado Duas-adagas, assolado por uma das maldições deixadas pelas guerras contra a Mortalha. Eu estava dormindo quando tudo aconteceu. A frágil casa que meus pais construíram desabou sobre mim e eu ainda consigo sentir as farpas de madeira grudadas em meu corpo. Ali eu fiquei durante muito tempo, cedendo à morte.
A voz veio a mim naquele dia. Ela dizia “Ainda não. Espere ela”, eu pensava “Ela quem?”, mas a resposta nunca vinha. Quando eu fraquejava, essa voz insistente persistia e eu sentia um pouco das minhas esperanças renovarem. Ela permitiu que eu não me sentisse sozinho na escuridão que me cercava. Certo dia, uma desejada luz me ofuscou. Ela não era amarela como a do sol, mas azul e fantasmagórica, de um tipo que eu nunca tinha visto. Parecia um anjo que se esforçava a escavar uma passagem até mim. Eu saí daquela condição sei lá como e tudo que me lembro, dali em diante, é me sentir seguro perto de Lady Sapphire.

─ Dizem que não é fácil lidar com ela. Que ela é diferente dos outros elfos e não sabe o que é cortesia.

─ Meu começo com ela também não foi fácil – ele assentiu, rindo ─ A voz que ouço agora se ausentou durante muito tempo e retornou nos últimos dias. Sinto que devo algo a ela e o melhor é que seja a minha curiosidade. Eu sei que é por isso que estou aqui, para pagar uma dívida.

─ Ei, vocês ainda vão demorar muito aí? Eu não quero estar aqui quando a noite cair ─ intrometeu-se Derek.

─ Você está certo, Derek. Está certo ─ Laelsen ergueu-se e esse foi o estopim para que os quatro retornassem à jornada.



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