Uma minúscula faísca dourada
acendeu na ponta do dedo indicador de Laelsen e logo sua luz irrompeu-se no
interior da caverna escura. O orbe de luz girou lentamente, cercado por um anel
de luminescência. Um truque simples que os elfos haviam ensinado a ele. Assim,
o restante da jornada foi iluminado e os quatro incautos aventureiros
adentraram o recinto analisando assustados os arredores do interior da rocha
que se ampliava e tornava-se mais plana e bem construída.
─
Uma masmorra, bem aqui, no Túmulo de Thalladoran! ─ exclamou Derek ─ Nunca
tinha ouvido falar.
─
Não queriam que o mundo soubesse ─ explicou Lael.
─
Eu sinto que algo ruim aconteceu ou ainda está acontecendo aqui ─ comentou
Halig.
─
Você está certo. Foi esta masmorra que a Mortalha usou para invadir Cadic pela
primeira vez. Na época, a vinda dos necromantes estigmatizou o bosque e foi
necessária quase uma década para que a natureza se regenerasse com a ajuda da
magia das fadas.
─
Então, esse lugar foi trancafiado e ocultado para cair no esquecimento?
─
A magocracia de Azran deve saber sobre esse lugar, tanto que posso sentir uma
magia poderosa tentando mantê-lo oculto. Estou certo que jamais teríamos
chegado até aqui não fossem as capacidades sobrenaturais de Violet.
O frio veio e se foi na espinha
de Halig. O grupo desceu um par de escadarias e ignorou todas as câmaras que
compunham o que antecedia os confins da caverna. Laelsen liderou o caminho e,
como ele resolvera ignorar todos os demais, Derek, Halig e Violet fizeram o
mesmo, por isso, não demorou até que as crianças chegassem no portão de pedra.
─
É este o lugar, meus amigos. O fim da jornada ─ revelou Laelsen e todos esboçaram
um sorriso satisfeito e involuntário no rosto – estamos diante do portão que um
dia foi a entrada e a saída para as catedrais de Karrasq.
Todos olharam com admiração.
Halig foi o primeiro a notar as letras estampadas na parede, franziu o rosto e perguntou:
─
Aquele é o seu nome?
O que antes parecia um emaranhado
de letras rúnicas agora revela-se um idioma comum para todos. Na parede está escrito
“LAELSEN”.
─
Você já esteve aqui, Lael? ─ perguntou Derek.
─
Eu não sei te responder isso.
─
O que devemos fazer agora? ─ perguntou Halig com uma repentina vontade de
desembainhar o resto da sua espada de madeira.
─
Acho que preciso de silêncio para escutar a voz.
E todos permaneceram calados enquanto
suas mentes inundavam em pensamentos. Foi a mente de Lael que reagiu ao local,
como previra:
“Eu
estou aqui, voz de minha sobrevivência”
“Consigo
notá-lo diante a penumbra, filho da resistência. Eu estou aqui, como prometera”
“Qual
será meu próximo passo?”
“Desejar
o que tens em mente...”
Os amigos de Lael logo notaram
que este, enfim, dialogava com a voz tanto aclamada. Lael refletiu um minuto
antes de responder à presença sobrenatural:
“Desejo
saber quem eu sou.”
E como respeitosa pausa à
menção, a voz também refletiu e disse:
“Todo
conhecimento provindo de um passado apagado exige um sacrifício do futuro
reconhecido...”
“Me
alertaram sobre isso.”
“Mesmo
assim deseja continuar? Diga-me, garoto da resistência, o mal impera em seu coração?”
“A
razão impera a minha mente e também o meu coração. Cheguei à esta conclusão
após refletir sobre minha existência de casca. Nunca poderei regredir em
conhecimento. Não é a tua vontade, nem será a minha.”
“Seus
olhos irão arder...”
“Meu
espírito inflamará e nunca haverá uma cura, apenas me satisfarei com a verdade.”
“Pois,
se bem pensas assim, lhe darei a escolha.”
Laelsen, enfim, virou-se para os amigos e os
três notaram seus olhos queimando, órbitas azuladas de uma consciência muito
superior àquela que antes pertencia ao corpo.
“Ouçam
amigos, suas almas alcançarão todo o perdão que os deuses puderem permitir e
nós nos veremos novamente, em breve”
Estendeu a mão e as chamas sobrenaturais
acenderam o lugar...
Primeiro
atingiu Halig, que era aquele que estava adiante de todos. A energia dera tempo
para que ele empunhasse sua espada de madeira para, logo em seguida, desintegrá-la
junto ao carvão que se tornou seu braço e o sangue engolido pelo vórtice que
fizera as gotas rubras flutuarem sólidas pela câmara. Em seguida foi a vez de
Violet, esta inundou a caverna com o cheiro reconhecível de cabelo queimado,
enquanto seu intocado rosto era manchado pela cruel queimadura provocada pela
estática que irrompia da presença de Laelsen. Por último, a energia serpenteou
num ziguezague infalível derrubando Derek no chão fazendo-o largar a moeda e lança-la
a um destino escuro e que jamais seria visto. Eles não gritaram, houve apenas o
estrondo trovejante que foi vomitado para fora da caverna junto com a morte dos
três.
A expressão de Laelsen ainda se
mantinha austera e decidida. Dono de uma frieza assustadora, ele sussurrou:
─
...nós nos veremos em breve.
Às suas costas, as letras cravadas na porta de
pedra formigavam mudando de posição e formando uma resposta:
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