O vagante




Quem sou eu!? Não consigo reconhecer meu rosto, meus pés doem, eu sequer sou o mesmo.... Meu corpo mudou, minha voz cansou e meu pensamento envelheceu, tudo mudou, depois desse regresso. Às vezes me pergunto se esse “eu” de agora é de fato quem eu deveria ser, ou se o “eu” seria aquele que está enterrado. Voltar a essa vida, hoje me parece uma dádiva, apesar de sempre tê-la odiado, ainda sim é melhor do que viver uma recordação. Agradeço por ainda estar vivo, mas será que eu mereço!? Tudo foi tomado de mim, pelo meu eu egoísta do passado, eu sou minha ruína, meu próprio nêmesis, o que me parte o coração é saber que outros tiveram suas vidas arruinados por minha causa. As memorias são nítidas, ainda me lembro bem de tudo aquilo, dos aromas, das mulheres, dos sabores.... Mas eu fiz tudo ruir, mesmo sob aviso, eu vou contra, e hoje sinto em minha pele ferida o porquê de nunca irmos contra o nosso sangue, de nunca quebrar a tradições e principalmente qual a hora de ceder.

“Ooh meu lindo outono, sinto falta do seu belo vermelho flamejante, que tingia o verde vivido e o tornava um mar de rubis, de como a mudança que você trazia era o início de algo maior, da paixão que ardia em meu ser a ver-te, eu sempre tentei ver o mundo desta mesma forma, como uma chama de vida que vem para nos moldar completamente, mas eu sou apenas inverno, um inverno eterno e solitário. Quiser eu sentir seu clamor de harmonia, que grita e pulsa vida em meu ser, mas eu sou o inverno, frio e escuro. Um inverno infindável que neva em lembrança e vontade de vê-la novamente, me lindo outono.”

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