- Seja bem vindo a Berith! A cidade fronteira entre os reinos de Azran e Citadel. Aqui é sempre assim: amontoados de viajantes e transeuntes. Berith foi construída aos pés de uma das montanhas que formam a coluna do mundo e está bem em cima da estrada principal que liga os dois reinos! - falava o velho que se apresentou como guia da cidade - Diga-me para onde o senhor deseja ir?
- Para onde Javert deseja ir? Essa é uma boa pergunta! Javert deseja encontrar uma taverna! - disse o halfling de sorriso aberto e olhar cativante.
- Uma taverna? Haha! Pois muito bem, pequeno! Em Berith existem várias delas. Você tem preferência por alguma?
- Javert deseja ir à "O gato e o violino". Ouvi muito sobre o dono desta estalagem...
- Aah! "O gato e o violino" é uma ótima taverna! Presumo que o que você ouviu sobre Samir está relacionado a sua aparência um tanto... exótica.
De fato era. As histórias sobre Samir contam que ele foi amaldiçoado pela licantropia desde seu nascimento, por isso, ele é metade homem e metade gato. Samir, entretanto, não é visto como uma aberração pelo povo de Berith. Sua reputação alcança toda a Planície Eterna, pois ele é dono do violino de Guiliiath, um antigo bardo devoto de Valerie. É por isso que o nome da taverna é este.
Samir também é o criador da competição pelo violino de ouro! Qualquer bardo que se disponha pode apresentar-se com seu instrumento musical e, se fizer uma atuação digna, ganhará um pequeno broche na forma de um violino dourado que lhe garantirá fama por todo reino de Azran. O vencedor do violino de ouro pode, até mesmo, tocar nas casas mais ricas dentro dos limites da Planície Eterna.
De tudo isso, eu já sabia.
O homem me guiou até a taverna. Eu me sentei numa das mesas de sombra oportuna, lá, eu pude ouvir a canção de uma jovem barda de cabelos aloirados. Era uma bela canção falando sobre os reis dessa terra. Minha atenção, entretanto, estava voltada ao taverneiro: Samir era realmente como eu havia ouvido falar. Um humano com pelagem negra e felina. Ele orquestrava, com maestria, suas garçonetes a servir as mesas.
- Bom dia, senhor! Sou Camilla, a responsável pelo atendimento da sua mesa. Deseja algo?- indagou-me uma moça de cabelos dourados preso num coque.
- Eu sou Jarvet! E Javert deseja apenas duas coisas, minha flor de lis. Primeiramente, Javert quer propor que seja atendido com um lindo sorriso estampado em seu rosto! E segundo, Javert deseja falar, a sós, com seu patrão.
Um sorriso tímido formou-se no rosto corado da moça - avisarei a Samir que o senhor deseja falar com ele.
E minha espera não durou mais do que mais uma canção da jovem barda. Em uma cadeira, atrás do balcão, estava Samir, assentindo com a proposta de prosear comigo.
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Samir, taverneiro de "O gato e o violino" |
Tomei a iniciativa do diálogo.
- É Muito bom poder rever você, meu bom amigo! Javert estava com saudades! A quanto tempo, não é mesmo!? - o gato mantinha olhos inquisidores e isso me fez questionar se não havia sido convincente.
- O que foi ? Javert está mau vestido? - indaguei tentando contornar seu olhar especulador.
- Na verdade, não. Você está bem. – o gato, então, disse suas primeiras palavras. Fiquei mais calmo.
- Você enganaria qualquer um com sua atuação de Javert, porém, sua maior desvantagem aqui é que eu conheço uma mentira de longe! Meus bigodes pressentem qualquer blefe, portanto, revele-se agora ou espalharei seus miolos aqui mesmo, nesse chão.
O gato sacou seu violino de brancura belíssima numa velocidade extraordinária.
Fiquei surpreso. Havia tempo que eu não era desmascarado. Será que ele realmente seria capaz de explodir minha cabeça com um violino ou tudo não passava de um blefe? Não quis arriscar:
- Que caralhos! Haha, você é bom mesmo e eu gosto disso!
O pequeno hafling, então, transforma-se num humanoide de longos cabelos negros como a noite, barba trançada e apresentando a cor pálida do mármore.
O gato olha a criatura albina a sua frente e dirige a palavra:
- Pois bem, você sabe o o meu nome criatura, agora diga-me o seu. – interrogou Samir.
- Suas palavras são muito verdadeiras, cara – falei disfarçando um leve sorriso. – mas, antes disso, eu tenho uma proposta: revelarei meu nome e, assim, você terá poder sobre mim, como eu tenho sobre você. Nomes são a chave de tudo, entende cara? Portanto, você participará de meu negócio.
Samir não parecia entender muito, mas a curiosidade dele é idêntica a dos gatos:
- Diga-me seu nome e eu escuto o que você tem a dizer.
Inclinei-me para a frente e fiz sinal para que também se inclinasse. Ele soltou a mão do violino e estendeu uma de suas orelhas aguçadas para mim. Com a devida solenidade, sussurrei meu nome em seu ouvido: Absalon.
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Absalon, o changeling |
Uma brisa circulou na pequena sala fazendo com que os papéis que estavam sobre a escrivaninha se espalhassem provocando arrepios em Samir. Então, eu disse:
- Agora estamos ligados a uma dívida solícita – indaguei - primeiramente, necessito de seus serviços para um plano que já está em andamento.
- Que plano seria este? - perguntou Samir com desconfiança.
- Um roubo! - exclamei.
- Um roubo? Roubar o quê?
- Roubar uma coroa.
...
Silêncio.
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