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Brastav, a capital de Azran é uma magnífica construção incrustada na rocha das Montanhas de Mármore. |
Príncipe
Alberich estava em seu luxuoso quarto no Castelo de Brastav. Sua aparência
ainda era pálida, porém, menos doentia do que uma semana atrás quando ele
experimentou o fôlego da segunda vida. Sua vestimenta era um adorno de joias,
um corselete longo de anéis de prata tão minúsculos que juntos formavam algo
parecido com um tecido feito da luz da lua. As mangas de seu braço esquerdo
continuavam inutilizadas desde o dia que seu corpo foi alvo da produção de dor
líquida, pelo culto denominado de “A Mortalha”. Seu braço havia sido arrancado
e seu rosto ainda carregava as marcas do massacre. Apesar de tudo, Alberich se
sentia bem. Bem e seguro, como nunca havia se sentido antes.
O
príncipe observou o horizonte à frente de seu futuro reino. Era uma planície
infinita, como os antigos manuscritos descreviam. O reino do exército esmeralda
e dos cavaleiros eólicos. Para este reino foram escritas inúmeras canções e ali
nasceram e morreram incontáveis heróis, sempre reconhecidos pela lealdade
fervorosa.
Um
dia Alberich sonhara ser um desses heróis. Agora, ele segurava a espada que lhe
era símbolo da fé. Ele sussurrou o nome da arma. Era Anne. Esperou ouvir alguma
resposta ou ao menos sentir o sopro divino de sua presença.
Nada.
Ele
havia perdido as bênçãos de Splendor e acompanhou os próprios pensamentos com
uma voz carregada de tristeza e molhada de lágrimas: “Como ele ousa me
abandonar depois de tudo que eu sofri? Que tipo de deus é esse que me exige
mais do que eu posso dar? Eu morri por você, Splendor! Eu morri!”
Os
olhos do príncipe já não eram os mesmos. Tinha ódio em seus lamentos e estes
soavam cada vez mais alto: “Qual a razão de minha luta? Pelo quê todos lutam?
Como você pode ser tão cruel? Acha que os humanos precisam comportar-se com a
perfeição de um deus!!??”
Alberich
usou seu único braço para arremessar a espada no horizonte de seu futuro reino.
Anne rasgou o ar e caiu nos andares inferiores do palácio, perdida nos arbustos
dos jardins de Brastav. O príncipe deixou-se cair de joelhos, impulsionado por um
grito de lamentação e sentindo as lágrimas tão pesadas quanto seu corpo.
Ele
tornou a olhar para aquele horizonte sem fim e sentiu a verdade avassaladora
golpear seu peito e ferir sua alma: “eu não quero mais ser digno”.
***
Lug
foi surpreendido por Theomund enquanto focava seu olhar em lugar nenhum a não
ser os próprios pensamentos. O estranho e estrangeiro aparelho sonoro que ele
portava emitia um som abafado, ao seu lado. O gnomo estava num dos bancos dos
jardins de Brastav, mais uma vez
-
Sei que algo lhe aflige, meu caro Lug – adiantou-se Theomund, com seus olhos
claros como os dias de céu limpo nas planícies de Azran – tentei respeitar seu
momento de concentração, mas a mente de um mago trabalha a mil e não posso
esperar mais um minuto sequer para ouvir seu relatório sobre a investigação da
dissonância harmônica.
Lug
agia estranho desde o dia que tocou o monólito que desabou do céu. Aquela
presença havia lhe garantido responsabilidades demais para alguém que se
preocupava, até então, apenas em existir. Agora, o gnomo não sabia se o que ele
tinha em mãos era uma arma ou um escudo.
-
Talvez você queira sua recompensa de antemão – Theomund estendeu à Lug um
pequeno baú de adornos de ferro pesando centenas de peças de ouro.
Ainda
perdido em pensamentos, Lug abriu o objeto e encontrou um punhado de peças de
ouro, uma pequena chave de cobre (usada para trancar e destrancar o baú) e uma
caixinha de veludo azulado.
A
curiosidade ainda era uma fraqueza do gnomo e ele a abriu de imediato. Era um anel
brilhante, com uma safira incrustada no aro. O anel perdeu seu brilho alguns
segundos depois quando Lug o tomou nas mãos.
-
É um anel de poder arcano. Um artefato poderoso para alguém como você. Você
pode notar as minuciosas impressões no lado interior do aro? Lê-se saginatta oratus poettica, é élfico e
significa “a poesia cantada é um mérito”. É um item para bardos, meu caro Lug.
-
O que ele faz? – a voz de Lug finalmente soou, apesar de ainda influenciada
pela consciência silenciosa.
-
Use-o durante três dias, sem retirá-lo uma vez sequer e a mente arcana se
expandirá. É uma recompensa rara nos dias atuais, Lug. Foi difícil consegui-lo
e espero que a minha boa vontade pague sua sinceridade.
Lug
arqueou as sobrancelhas em tom de dúvida.
-
Quero dizer, meu caro, que quero saber tudo. Inclusive o que lhe aflige. De
certo, o que lhe fez perder a atenção nesses últimos dias foi algo no qual você
se deparou na última jornada.
Lug
precisava de mais alguns minutos para decidir o que contar...
Recompensa: 750 Po e um Amuleto de poder arcano I
(bardo). Um amuleto de poder arcano precisa ser usado durante três dias sem ser
retirado e, após essa duração, ele abre reservas de magias na mente de seu
portador, caso ele seja bardo. Dobre a quantidade de magias diárias de 1º
nível.
***
Yin
atravessou os corredores do palácio de Brastav até alcançar a porta do quarto
de Ophellia.
Toc!
Toc!
-
Ophellia, você está aí?
-
Sim!
- Sua mãe me pediu para continuar seu
treinamento três dias atrás. Os guardas disseram que você recebeu o recado, mas
não compareceu uma vez sequer no poleiro. Precisamos dar início a isto já. Saia
desse quarto.
-
Não! – Ophellia falou após um breve momento de silêncio.
A
negação fez com que Yin derrubasse a porta do quarto com um chute.
BAM!
A
monja deparou-se com um quarto cheio de vários nadas, a não ser um varal com
duas roupas leves, um par dos pisantes de Asura, um prato rachado com restos de
loomie e uma esteira onde Ophellia mantinha-se deitada com os pés mergulhados
em uma bacia de água morna e os cabelos de prata desajeitados cobrindo-lhe a
face.
Ophellia,
em seu deleitoso descanso, virou o rosto para encarar a temível mentora e
disse:
-
Eu não tô bem! Sai! – mas a reclamação não passou de um muxoxo quase inaudível.
Yin
resolveu ignorar a súplica. Olhou os arredores e concluiu:
-
Seu quarto não é tão luxuoso quanto os demais.
-
Pedi pra mamãe tirar todas aquelas coisas...
-
Por que?
-
Sei lá... Feng Shui...
Yin
escondeu um sorriso e aproximou-se da debilitada pupila.
-
O que está acontecendo?
-
Cólica, mal-estar, calos, dor de cabeça, enjoo, a vida...
A
mestra monja, cautelosamente, curvou-se até conseguir encarar o rosto de
Ophellia mais de perto, em seguida, lhe socou a boca do estômago três vezes!
Golpes tão rápidos que o vento ocasionado pela quebra da barreira do som fez
todos os objetos próximos se espatifarem como soprados por um gigante.
Mal
se contendo devido ao ato súbito da mentora, Ophellia chutou a bacia contra a
parede enquanto se engasgava de espanto. Ergueu-se quase sem fôlego e pôs-se em
posição de luta.
-
O-o-o quê? – tateou o próprio corpo, falando ainda ofegante – Não estou sentido
mais nada, a não ser a minha fria alma voltando pra o corpo depois de tamanho
susto!
-
Chama-se Dim Mak. Não lhe encostei um dedo, apenas o deslocamento de ar foi o
responsável por tudo isso.
Mas
Ophellia não ouviu, porque estava impressionada demais usando aquilo que ela
julgava um novo corpo, melhor e aperfeiçoado.
-
É por isso que te chamam de Punho Divino? – perguntou finalmente.
-
Como você sabe disso?
-
Eu ouço histórias. Na verdade, eu não somente as ouço como também as escrevo.
Está em algum lugar no meio daqueles trapos...
Ophellia
apontou para um emaranhado de trapos que parecia o entrelaçado de mil víboras
devorando as caudas uma das outras.
-
Esse título não tem nada a ver com redenção, apenas com destruição. Não gosto
dele. Não o uso mais.
-
E o que a senhora “usa”, então?
-
Eu uso nada. Nem escudo, nem espada. É a dádiva da vida que me rege. O Éden.
-
Quero conhecer o Éden!
-
Não se conhece o Éden. Cria-se ele!
-
Não entendo.
-
Você tem um pedaço dele em você.
-
Você fala da minha alma, da minha força de vontade ou da coisa abstrata que
cada um de
nós, meros mortais, carrega como recompensa e castigo durante toda
nossa vida? Refere-se ao destino? Ao que é inexorável e confunde nossa mente
para nos distanciarmos do verdadeiro significado de nossa existência?
-
Não. Refiro-me ao amuleto que sua mãe lhe deu.
-
Ah...
-
Ele é um pedaço do Éden.
Ophellia
tomou a joia em suas mãos e a observou com um novo brilho no olhar.
-
Criar seu Éden é um trabalho longo e árduo. Requer sacrifícios e extrema
exposição à dor física e mental. A dor e o cansaço precisam ser suas amigas de
jornada. Jornadas e peregrinações precisam ser contínuas. Quatro paredes a
mantém segura e confortável, mas a trancafia num mundo de ilusória existência.
Seu lugar não é neste palácio... é em qualquer outro lugar e durante tempo limitado.
-
Para onde devo ir, então, mestra?
-
Primeiramente, para o alto das montanhas. Vou te ensinar a harmonizar-se com a
joia de sua família.
-
Para as montanhas? Mas... eu acabei de voltar de lá!
Yin
mostrou à sua pupila a expressão mais exigente que conseguiu.
Foi
mais do que o suficiente.
-
Então... treinamento agora, né? ... para as montanhas!
Resmungo:
- Só queria saber se os cento e um passaram por isso também...
Recompensa: o amuleto concedido por Lady Magdalen à
Ophellia é uma Joia do Éden. Uma semana de treinamento depois, a Joia do Éden
torna-se um Periapto da Sabedoria (+2 no valor de Sabedoria).
***
As
lâminas e o arco de Sapphire estavam embainhados, mas a ferocidade com a qual
ela pisava decidida no pátio de cerâmica lustrosa da sede da Inquisição em
Brastav já era suficientemente ameaçadora. Ela pôs-se em frente à bancada e
ralhou com o atendente. Seu único olho emoldurado por uma sobrancelha arqueada
saltando-lhe da órbita em estado de frenesi e o outro coberto pelos cabelos
azuis:
-
Escute aqui! Vocês já não acham o suficiente a quantidade de missões escabrosas
que estou realizando em prol da Inquisição? Semana passada eu escalei aquela
montanha infernal para levar o cadáver de um príncipe filhinho da mamãe até o
cume, numa escuridão fria e tenebrosa, enfrentando malucos, gigantes e uma
bruxa que me trancou dentro de uma gaiola suja e queria me devorar! Só o ardor
flamejante que guardo em meu peito, graças à Carmine, me deu forças pra
continuar, diferente do confuso e inútil Elessar que está desmaiado PARA
SEMPRE! Eu acho, eu só acho! Minhas ações deveriam ser recompensadas e minha
existência na ordem promovida, porque a vida de aventuras não é fácil! Fácil é
a sua vida atrás de uma bancada, escrevendo e enrolando pergaminhos, sem
derramar um pingo de sangue! Eu, por outro lado, tive a MINHA ALMA rasgada por
um espectro que sugou parte de minha vitalidade, por causa de um gnomo!!!
Agora, estou aqui para exigir o que eu devo merecer!
Depois
que o tempo foi preenchido com um silêncio vexaminoso, o constrangido elfo da
recepção respondeu:
-
Você é Sapphire... aquela que foi recrutada para acompanhar o grupo responsável
por carregar o corpo do príncipe Alberich até o cume das montanhas de mármore,
não é isso?
-
SIM! – respondeu a elfa, a pele tingida de vermelho raiva e o cérebro fritando
de cólera.
-
A Inquisição lhe mandou pergaminhos de congratulações pela sua última
empreitada. Estamos felizes por tê-la em nossas filas de inquisidores e seu
nome andou sendo cogitado pelos próprios yeshuas no planejamento de algumas
missões que exigem indivíduos ímpares, como você.
O
representante da Inquisição pôs, em cima da bancada, um pergaminho contendo as
felicitações, um saco com muitas peças de ouro e uma armadura feita de brilho
prateado.
-
Sério? Isso é mithril!? – os olhos de Sapphire brilharam tanto quanto a
armadura.
-
Você tem toda razão, Sapphire. Uma cota de malha feita de mithril é muito mais
leve e não limita seus movimentos.
- E é exatamente do meu tamanho! – a elfa
concluiu ao avaliar o modelo – Sabe? É muito atencioso, da parte de vocês,
saber o meu número.
-
Nós, também, infelizmente não temos boas notícias.
Era
tarde demais. Sapphire já se via brilhando como a lua em suas jornadas.
-
Alek Baldric era o representante de Mordae interessado em seus serviços, mas,
infelizmente ele desapareceu a três semanas. Nenhum membro da Inquisição o
encontrou, tememos que ele tenha morrido.
-
Baldric? O que esse sujeito queria?
-
Inquisidores encontraram alguns de seus últimos manuscritos. Em um deles, Baldric
comentava sobre um poderoso feiticeiro que tinha ligação direta com você.
As
memórias de Sapphire a inundaram de uma péssima nostalgia e a cratera que antes
era seu olho esquerdo latejou reagindo as lembranças.
-
Quero esses manuscritos!
E
a elfa não se aquietou até tê-los em mãos.
Recompensa: 750 peças de ouro e uma cota de malha
de mithril.
***
-
Eu concluí a missão, senhores da morte. Encaminhei a alma da bruxa ao
purgatório para o julgamento de minha deusa. Agora, peço-lhes um novo norte,
pois sem uma missão, não há motivos para a minha existência.
Era
uma noite menos escura que as últimas que Eloh havia presenciado em sua última
jornada. O culto de Veronicca não era proibido em Brastav, mas o que lhe
restava para clamar pela providência divina era um altar escavado na pedra ao
ar livre. O altar era também um sepulcro. Na pedra estava escrito, manchado de
musgo e corroído pelo tempo, o nome Lazarus Illbreath. Não era um nome que Eloh
reconhecia.
As sombras dançaram ao seu redor, formando um
redemoinho de escuridão que logo deu forma a duas figuras fantasmagóricas.
-
A alma da bruxa encontra-se no purgatório, como disseste, meu caro irmão –
falou o primeiro dos fantasmas, era o de voz masculina – ... e sua próxima
missão ainda é uma névoa. Você deve permanecer junto aos filhos do rei mortal
dessas terras e se prontificar a ajuda-los – comentou a segunda voz, feminina.
- Quanto tempo isso pode levar? – indagou
Eloh.
-
Você não deve temer pelo tempo. Acontecerá quando tiver de acontecer –
respondeu o fantasma de voz grave – repouse, assim como todos, você ainda é
mortal. Os irmãos te levarão à jornada certa – complementou a mulher fantasma.
-
Eu entendo, escrivães. Retiro-me e espero minha próxima jornada com paciência.
-
A própria Veronicca lhe concedeu uma bênção hoje, Eloh, filho da morte – a
fantasma adicionou – Chama-se Súplica da morte pela lâmina fria – o fantasma
concluiu.
-
Estou lisonjeado pela bênção. Do que se trata?
-
Uma vez, somente uma única vez, a lâmina de uma espada não encerrará sua vida.
Você não morrerá pelo frio da espada, Eloh! Mesmo que esta atravesse seu peito.
Por isso, não tema o próximo guerreiro que portar uma– explicou o fantasma,
tornando-se uma sombra pouco nítida, desaparecendo vagarosamente, como um sonho
desmanchado, em pleno ar noturno – Conclua sua próxima missão, irmão, e
Veronicca lhe cobrirá de vestígios da imortalidade – a mulher fantasma
desmanchou-se como água, unindo-se à sombra mais próxima.
-
Seja feita a justiça da morte, senhores escrivães. Estarei sempre esperando a
minha hora.
Recompensa: Súplica
da morte pela lâmina fria
impede que Eloh morra, uma única vez, pelos ataques desferidos por espadas.
Considere espada qualquer versão de arma que carregue o mesmo nome (espada
curta, espada longa, espada larga ou espada bastarda) junto ao sabre, a
falcione e a cimitarra. Ele recebe dano pelo tipo de arma normalmente, realiza
testes de morte como o usual, mas caso falhe três vezes consecutivas neste
último, a morte não lhe alcançará.
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