Apoiado na foice monolítica, o colosso avançava obstinado direto ao seu ponto de colisão, arrastando terra e madeira das casas esmagadas a cada pisada. “É agora ou nunca!”, ordenou Ithias e o gigante de ferro, comandado pelos gêmeos gnomos, estendeu seus pesados braços e disparou oito pássaros de energia, estes rodopiaram no céu negro e choveram sobre a aberração colossal, “Reconheçam a tecnologia criada pelo Barão da Máscara de Ferro!”, gritou um dos gnomos, preso aos ombros do gigante de ferro como uma aranha, “Conheçam o futuro!”, complementou seu irmão. Os pássaros de energia explodiram como mísseis sobre a pele pétrea do alvo.
O colosso virou-se tão vagaroso quanto uma criatura de seu tamanho poderia, ergueu sua foice do chão lamacento, mas antes que pudesse desferir o ataque, Ithias conjurou uma bola de fogo em seu rosto. Devido às proporções, a fraca magia do mago apenas ofuscou momentaneamente o inimigo que ceifou apenas a chuva ao seu redor. O gigante de ferro disparou novos pássaros de energia que explodiram no torso da criatura fazendo-a cambalear dois passos sísmicos para trás. O destruidor de Cadic recompôs-se rápido, mas antes que pudesse avançar mais passos, sentiu o pescoço ser agarrado por uma dezena de braços…
***
A gigantesca árvore no centro de Cadic havia despertado. Nos galhos mais altos, Thallion se esforçava para equilibrar-se. O guardião dos bosques avançou contra o oponente e uma dezena de seus galhos agarraram-no, embrenhando-se como uma selva constritora sobre o inimigo. O colosso tentava se livrar do caloroso abraço da natureza enquanto os gêmeos gnomos comandavam o gigante de ferro a escalar as placas de pedra que compunham a armadura do inimigo. Os pequenos sprites deram a ordem e Thallion saltou do ente para o corpo do colosso, equilibrando-se com maestria, Pecks apontava para as fendas da armadura monolítica e o elfo havia entendido a estratégia, apoiou-se com firmeza no chão instável mirando no ponto indicado e disparando a primeira flecha. O disparo desapareceu na escuridão cavernosa que eram as fendas na pele da criatura e as pequenas fadas entoaram suas canções feéricas. Em poucos segundos, a flecha plantada na carne do adversário cresceu atingindo o tamanho e a forma de um gigantesco carvalho, empalando o inimigo. Thallion alcançou os firmes galhos de sua flecha-carvalho e ali ficou dependurado esperando enxergar outra fenda. O colosso urrou de dor lancinante.
O gigante de ferro escalava a montanha de pedra que era o corpo do colosso, os gêmeos gnomos ateavam fogo em pequenas bolsas de pólvora e arremessavam-nas entre as fendas da armadura provocando explosões que faziam a criatura cambalear. Tal como um raio, um pequeno virote de besta atingiu a carapaça da criatura que esfarelou-se provocando um pesado deslizamento de rochas. No céu, montados em um par de lammasus (os bichanos de Jackson), a dupla de bardos da Taverna do Dragão Uivante enfrentava a forte tempestade. A besta de Javert tinha o tamanho de um canhão e magia transbordava ao redor dela, “Agora, Jackson!”, e como haviam planejado, o famoso e excêntrico bardo halfling começou a entoar a melhor de suas canções. A canção dos heróis.
O ente ordenou que de seus galhos nascessem espinhos e estes cravaram na pele do colosso e, então, cresceram formando uma plantação de estacas. Thallion disparava mais uma flecha certeira entre as fendas da pele da criatura e esta, mais uma vez, tomou as proporções de um magnífico carvalho que o elfo usou para apoiar-se. O gigante de ferro, fortalecido por uma das magias de Ithias, passou a arrancar as placas de pedra que compunham o corpo do colosso, auxiliado pelas bombas tecnológicas dos irmãos gnomos. O monolítico inimigo tentava se livrar do enxame de criaturas ao seu redor e as sprites brilhavam como tochas diante seu imenso globo ocular, ofuscando-o.
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Já se passara um minuto desde que Atticus pegara a picareta de Ivelka e concentrava-se na conjuração de uma magia. Wolfgang decepava a cabeça de mais uma fera alada, “Depressa com isso, Atticus!”, ele ralhava, Ivelka escondia seu nervosismo diante tanta lentidão, “Se acalmem, é uma magia de quinto círculo! Não é fácil invocá-la sob tanta pressão!”, explicou o irmão. A anã assistia o inimigo em comum ser arrebatado pelos excêntricos defensores de Cadic, mas reconhecia que o colosso era uma estrutura milenar, tão resiliente quanto o próprio vulcão de Hefasto e necessitaria de muito mais dano. “Terminei!”, exclamou Atticus e Ivelka imediatamente empunhou sua arma novamente, “Fiquem aqui! Não se aproximem!”, “O que você vai fazer irmã?”, resmungou Wolfgang e ela respondeu: “O que eu sei fazer de melhor… escavar” e investiu em direção ao colosso.
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O céu e a tempestade estavam revoltosos. Raios verdes eram dissipados e tomavam caminhos totalmente diferentes do original sob o protesto dos tambores de Orchestra e dos gnolls. Eles impediam que a tempestade maligna afetasse seus aliados. “Precisamos ajudar de alguma forma!”, ralhava Adam observando a luta contra o colosso, Runo escutou o garoto e olhando para a esquisita dança xamânica dos homem-hiena disse: “Eu não sei dançar…”. Adam armou-se com o arco que seu pai lhe dera e disparou contra uma das feras aladas, bem no peito. Ela virou-se para o caçador e num grito estridente comandou um grupos de criaturas para aquele local, “Minino! Num faça isso! Quer nos matar?”, Runo armou-se com sua espada larga e antes que um dos alados pudesse chegar a desferir um ataque, arrancou-lhe as asas fazendo-o desabar no chão, morto. “Devemos auxiliar de alguma forma, nem que seja atraindo as feras aladas para cá!”, Runo arrancava sua espada larga das costas do segundo inimigo abatido e resmungava “Nos últimos anos venho descobrindo que os humanos são bem mais teimosos que os anões”, e partiu para a guerra.
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Ivelka encarava o colosso como uma formiga encara um gigante. Imóvel como uma pedra. O colosso titubeou para um lado, depois para o outro, vítima dos agarrões, explosões e empalamentos causados pelo enxame de heróis presos ao seu corpo. A anã precisava do momento correto e, finalmente, este aconteceu, “Por Hefasto! Pela Forja Vulcânica!”, gritou e atacou o chão com sua picareta. A terra cedeu, uma enorme fenda criou-se em ziguezague, abrindo uma cratera enorme no solo, “Caia, aberração!”, amaldiçoou e correu para um lugar que julgava seguro.
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O colosso tentou se recompor, mas repentinamente não sentiu mais a firmeza do chão, pisou em falso na cratera que Ivelka havia criado momentos antes e desabou como uma montanha, “Está vindo em nossa direção!”, gritou o general Samuel Ascallon, “Paladinos, irmãos! Não fujam! Tenham fé!”, ordenou Cliver, “mirem a cabeça da estátua!”, comandou Samuel. Os soldados seguraram a base da estrutura e os nove paladinos agarraram-se ao monumento. A enorme sombra que se projetava do colosso estendeu-se para além da posição em que os resistentes do distrito de Forte Decker estavam, todos assistiam o meteoro que estava prestes a cair sobre eles, preparados para a morte. Diana, a frente de todos, fixou seus olhos para uma das fendas da criatura e coordenou: “PUNIR O MAL!”. Como uma lança preparada contra a investida inimiga, a cabeça coroada da estátua do príncipe Alberich brilhou, emanando a vingança divina dos paladinos, e afundou-se na carne do adversário. Samuel Ascallon assistiu a pedra do monumento esmigalhar-se toda, como vidro, enterrando-se profundamente na carne do colosso e saltou como pôde para longe do terremoto. Muitos soldados morreram esmagados, alguns se salvaram mergulhando na proteção entre as fendas da criatura, dentre estes, Cliver e Diana.
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