Bio Plague
Corriam gritos pelo subterrâneo do hospitalário. As salas são, em sua maioria, escuras,
iluminadas por meras tochas mal distribuídas pelos corredores longos, úmidos e
vestidos de teias de aranha. Eram vozes humanas torturadas, mas não eram deste
mundo. Ali existiam criaturas para esconjuro, presas em correntes arcanas, impedidas de
disseminar sua loucura e longe dos olhos e ouvidos dos mortais. Algumas delas
riam de prazer sádico, outras choramingavam implorando por liberdade enquanto
seus toques tornavam frias as masmorras do templo de Velaska.
Após
tantos corredores labirínticos chegamos ao salão principal, um salão de
reuniões bem iluminado com fogo espiritual de chamas azuladas e o cheiro de
alquimia exalando no ar abafado. Lá encontraremos cinco sujeitos encapuzados,
todos usando uma máscara com a forma alongada adiante o nariz, lembrando muito
bem um corvo. Estes são os sacerdotes de Velaska, médicos da praga, estudantes
do ocultismo, enluvados, polidos, imóveis e sombrios como a sombra de uma
gárgula diante um frasco localizado no centro de tudo.
|
Médicos da praga, sacerdotes de Velaska |
—
Estamos diante do que andei procurando por tanto tempo, vossas senhorias. O
estudo do pai agora está a menos de um metro de cada um de nós – pronunciou um
dos encapuzados.
—
Dezenas de vidas para criar algo tão pequeno, tão insubstancial... – comentou um
segundo médico da praga em tom bastante surpreendido.
—
Dezenas de mortes realizadas para a morte de uma centena de outras e, estas
centenas, para milhares e, estes milhares, para a morte de tudo – explicou o
primeiro dos encapuzados – estes que morreram em Cadic fazem parte apenas da
segunda etapa.
Houve
um silêncio sepulcral antes que um dos sacerdotes de Velaska o cortasse:
—
Então, senhor, para que a morte da metade dos nossos serviu? – o curioso a
perguntar isso era o próprio Plague, sua história está intrinsecamente voltada
à reunião daquele grupo.
Aquele a que muito se destaca a
sapiência e está mais disposto a falar adiantou-se, à frente do círculo, puxou
uma de suas luvas – a da mão esquerda – era uma mão escura, negra como carvão,
um rastro de sombra capaz de dedilhar. É este quem apanha o objeto no centro do
círculo: um frasco transparente contendo um líquido vermelho-escuro, viscoso,
quase estranhamente vivo. O médico da praga de mão negra segura o frasco pela
base, afunilando acima do toque de seus lépidos dedos e os demais puderam ouvir
o ar saindo de
seus pulmões após uma pausa deste ao analisar o conteúdo.
—
Os nossos mortos nos deram a chance de estudar essa magia. É isto que faremos,
irmão Plague. É isto que o ensinei a fazer.
O
silêncio de todos aprovou a ordem não anunciada. Os sacerdotes de Velaska têm
muito o que fazer.
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