Vestígios de narração 30/09/2018


Bio Plague

            Corriam gritos pelo subterrâneo do hospitalário. As salas são, em sua maioria, escuras, iluminadas por meras tochas mal distribuídas pelos corredores longos, úmidos e vestidos de teias de aranha. Eram vozes humanas torturadas, mas não eram deste mundo. Ali existiam criaturas para esconjuro, presas em correntes arcanas, impedidas de disseminar sua loucura e longe dos olhos e ouvidos dos mortais. Algumas delas riam de prazer sádico, outras choramingavam implorando por liberdade enquanto seus toques tornavam frias as masmorras do templo de Velaska.

            Após tantos corredores labirínticos chegamos ao salão principal, um salão de reuniões bem iluminado com fogo espiritual de chamas azuladas e o cheiro de alquimia exalando no ar abafado. Lá encontraremos cinco sujeitos encapuzados, todos usando uma máscara com a forma alongada adiante o nariz, lembrando muito bem um corvo. Estes são os sacerdotes de Velaska, médicos da praga, estudantes do ocultismo, enluvados, polidos, imóveis e sombrios como a sombra de uma gárgula diante um frasco localizado no centro de tudo.

Médicos da praga, sacerdotes de Velaska

— Estamos diante do que andei procurando por tanto tempo, vossas senhorias. O estudo do pai agora está a menos de um metro de cada um de nós – pronunciou um dos encapuzados.

— Dezenas de vidas para criar algo tão pequeno, tão insubstancial... – comentou um segundo médico da praga em tom bastante surpreendido.

— Dezenas de mortes realizadas para a morte de uma centena de outras e, estas centenas, para milhares e, estes milhares, para a morte de tudo – explicou o primeiro dos encapuzados – estes que morreram em Cadic fazem parte apenas da segunda etapa.

Houve um silêncio sepulcral antes que um dos sacerdotes de Velaska o cortasse:

— Então, senhor, para que a morte da metade dos nossos serviu? – o curioso a perguntar isso era o próprio Plague, sua história está intrinsecamente voltada à reunião daquele grupo.

            Aquele a que muito se destaca a sapiência e está mais disposto a falar adiantou-se, à frente do círculo, puxou uma de suas luvas – a da mão esquerda – era uma mão escura, negra como carvão, um rastro de sombra capaz de dedilhar. É este quem apanha o objeto no centro do círculo: um frasco transparente contendo um líquido vermelho-escuro, viscoso, quase estranhamente vivo. O médico da praga de mão negra segura o frasco pela base, afunilando acima do toque de seus lépidos dedos e os demais puderam ouvir o ar saindo de 
seus pulmões após uma pausa deste ao analisar o conteúdo.

— Os nossos mortos nos deram a chance de estudar essa magia. É isto que faremos, irmão Plague. É isto que o ensinei a fazer.

O silêncio de todos aprovou a ordem não anunciada. Os sacerdotes de Velaska têm muito o que fazer.

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