“Flechas!”, ordenou o agora general Samuel Ascallon, antigo regente de Forte Decker. Seus soldados se uniram ao que restava da milícia de Cadic e dispararam contra as nuvens, em direção ao bruxo. A saraivada de flechas não surtiu qualquer efeito, embora, de fato, alguns dos arqueiros afirmaram obstinadamente que muitas de suas munições cravejaram o corpo do alvo. “Atirem novamente somente ao meu sinal”, tudo que restava ao general agora era esperar.
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Thallion escalava a grande árvore no centro de Cadic, buscava um galho alto o bastante e quando o alcançou mirou uma flecha certeira contra o inimigo solitário no céu tempestuoso. Sua flecha foi desviada pelos ventos da tempestade, mesmo assim acabou atravessando a perna do alvo… pareceu não ter surtido qualquer efeito. Pequenas luzes brilhantes, então, rodearam o elfo, elas piscavam como vagalumes e pareciam dançar no vento, “Quem são vocês?”, ele indagou, mas não houve resposta além de um sopro agradável e quente em seu ouvido, “São sprites… pequenas fadas guardiães do bosque”, Thallion se lembrava muito bem delas, pois Hoaqin tinha uma como aliada, “Pecks…”, ele pôde reconhecer esta, nua, protegida apenas pelo pó dourado flutuante ao redor de si. Ela sorriu e assentiu afirmativamente com a cabeça, “Me desculpe, Hoaqin morreu e eu nada pude fazer…”, Pecks pousou sua minúscula mão no ombro de Thallion e o confortou, depois assobiou para as demais que rodopiaram ao redor dele. Pecks aterrissou na ponta da flecha de Thallion, abaixou-se, fitou o bruxo adiante e com um aceno de mão exigiu que o elfo esperasse o momento certo para disparar suas flechas.
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Adam já havia disparado duas flechas e deduzira, “Não adianta!”, sussurrou para que apenas ele mesmo pudesse ouvir, mas a intrusa Sebille escutou, “Aquilo não é mais Lancaster, o décimo sétimo barão da Mortalha, aquilo é apenas a carcaça de algo bem maior”, ao lado da necromante estava Hildegrimm zumbificado e um trio de esqueletos coroados, “O que está falando, bruxa?”, “O óbvio, querido… economize suas flechas.”
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Wolfgang perdera o fôlego tentando acompanhar Ivelka, “como uma anã manca pode correr tanto?”, até que finalmente ela parou e ambos puderam ouvir: “Irmãos!”, uma voz familiar os alcançou, “Atticus…”, sussurrou Ivelka reconhecendo-o. Os três anões se reuniram novamente, depois de longos dez anos, infelizmente numa situação nada amigável. Ivelka abraçou-o, Wolfgang cabeceou a testa dura de Atticus, como dois bodes velhos fariam. “Ofélia lhe trouxe a presa dracônica!”, Atticus referia-se ao machado com face de dragão, “Lutamos juntos. Matamos algo realmente grande. Este bruxo não será desafio…” comentou o confiante Wolfgang, Ivelka entretanto mantinha o olhar firme em direção ao bruxo, como se esperasse algo muito pior aparecer, “Recuperem o fôlego, essa luta irá durar…”
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“Cliver, você está vivo!”, os paladinos de Splendor se reuniram. Eram nove. Cliver conhecia Diana e estava muito contente por ver sua amiga viva, “Estive na Dragão Uivante. Eu a vi morrer, amiga… eu pensei que…”, os olhos de Cliver se continham do excesso de lágrimas, “Estávamos nos calabouços do Templo de Splendor, Halig morreu para nos ajudar, que Splendor o receba como um herói nas hostes”, “Eu vi o escudo de Halig com Samira. Ela me ajudou. Também está viva”, “Somos dez, então!”.
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No alto das colinas, os seis clérigos de Velaska acenderam seis velas de chamas fantasmagóricas. Um por vez desenrolava um longo pergaminho e o lia, entoando-o como um cântico. Era o cume da colina mais alta de Cadic, mesmo assim a altura não era excessiva, havia os contornos das brumas que quase alcançavam a faixa de terra pétrea onde os médicos da praga resolveram parar e preparar o ritual. “Podemos atacar agora, irmão”, “Ainda não. Esperem, esta não é a verdadeira forma de nosso inimigo”. Os seis, então, esperaram…
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Débil, os últimos resquícios de consciência de Lancaster foram completamente consumidos pelo poder profano passado à ele. Seus olhos perderam a cor, de seus ouvidos e nariz escorriam a gosma preta, da boca jorrava. O sorriso era negro, seus dentes mastigavam a escuridão e sua voz passou a ter a intensidade de um trovão. Relâmpagos verdes o acertaram lá em cima, cortando ele, mutilando-o como mil espadas fariam, mas ele não sentia dor, porque não era mais criatura viva.
Os relâmpagos rasgaram toda a vestimenta epitelial que o verdadeiro inimigo ainda possuía de sua antiga forma. Agora a escuridão transbordava pelo céu de nuvens negras e dobrava seu tamanho, ficando gradativamente maior, criando forma, carcaça, músculo e pele grossa como pedra…
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O gigante de ferro encerrou seus ataques e agora era bem cuidado pelos gêmeos gnomos que conjuravam magias em sua criação a fim de recarregar as baterias. Dentro do Moinho de Lug, Lufahic ululava satisfeito, sua máquina havia feito o devido estrago, Orchestra e Runo observavam o céu estremecer e a escuridão que cercava o bruxo transbordar em cascata e tomar forma, “Cara, isso nunca acaba!”, resmungou Runo. Orchestra estava perplexo, sua visão no escuro conseguia discernir melhor a nova forma da criatura que se formava diante toda Cadic, “Martelo de Hefasto! ...isso… não pode ser…”, dos três que estavam dentro do moinho, por melhor conhecer o que estava prestes a acontecer, Orchestra era o mais alarmado.
Do lado de fora, Ithias voava, vestes, chapéu e barba drapejantes. A barba se movia, como viva, apontava a direção cujo corpo de Lancaster se transformava no último dos terrores. Os olhos do mago trabalhavam com dificuldade naquela escuridão, ele esperou até que um trio de relâmpagos iluminasse o céu e reconheceu a coisa. Ficou tão atônito quanto o anão Orchestra, “Nem mil magias!”, ele amaldiçoou o destino, “Amigos, recomponham suas energias…”, Lufahic, Runo e Orchestra saíam do Moinho de Lug prontos para enfrentar o que quer que fosse, “Estamos diante um elo perdido, domado pelo inimigo…”, continuou Ithias enquanto lembrava-se de seus estudos sobre as pedras que caíam do céu, “Não estamos diante apenas da Mortalha…”, raios e trovões interromperam seu discurso, mas ele, enfim, o encerrou: “Estamos diante de um dos colossos da primeira era”.
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Um dos colossos da primeira era |
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