Dos verdejantes bosques e florestas, eu vim. Do estalar dos galhos e do uivar da brisa noturna, eu nasci. A terra é parte de mim e eu sou parte dela. O esmeralda do meu lar enraizou-se em minha mente e em meu coração. São a fonte da minha força e essência. E por anos apenas eles foram meu alento. O piar dos pássaros e grunhido dos animais. O cheiro da chuva. Estes sustentaram a minha alma. Talvez seja isto que apenas olhos mais precisos podem ver. Coisas que a mesquinharia da mente humana não consegue...
Acredito que talvez esta seja causada pela sua curta linha de vida. Nunca vi criaturas com tanta capacidade para destruição e corrupção. Seres feitos de uma essência rala e de uma inconstância exaustiva. Se esvaem com a facilidade que as folhas tornam-se cinzas. A futilidade se esgueira pelos seus pensamentos. A soberba agarra-se aos seus corações e a vaidade os infecta. Devo admitir que demoramos para efetivamente agir contra a libertinagem humana.
Foi o estopim quando várias fendas com alto acúmulo de necromancia se romperam pelo mundo, ameaçando até o santuário do meu povo. Eu permaneci em minha terra natal quando a aberração criada pela ganância humana se alastrou. Alguns de nós seguiram para unir-se as outras raças na grande batalha que encerraria a Era. Não tinha permissão para ir com eles nessa época. Enquanto esperávamos pela resolução, nos preparamos para o pior... Até mesmo os nossos arcanjos envolveram-se na luta contra o que se tornou conhecido como Cidade de Carne. Tinha consumido toda a Dragocracia e tentou romper-se em outros reinos. Desafiando até nossas fronteiras. Os humanos lutaram também, mas a causa de tudo foi a sua mente débil e o coração fraco para as tentações malignas que cercam a todos nós.
A muito era sabido que o uso da magia tinha sido distorcida para propósitos nefastos, mas nunca havíamos presenciado tamanha abominação. Nós nos culpamos muito por ensinar aos humanos sobre a magia, e nos arrependemos também. Tínhamos razão para tamanho pesar.
Apesar disto... Era de nossa vontade permanecer em paz e de forma civilizada. Finalmente um tratado foi feito com os senhores dos humanos. Foi a oportunidade de fazer a minha parte. Passei anos caçando arcanos ilegais, principalmente humanos. Era uma parte do acordo entre as raças. Manter o poder arcano sobre constante vigilância. Graças a uma dessas caçadas, entrei em confronto com o feiticeiro, ainda tenho a marca para me lembrar disto. Quase perdi a capacidade de enxergar com um dos olhos, foram meses de recuperação.
Viver longe de Ellidoranne é peculiar. Sinto a nostalgia dos anos de minha infanta idade, contudo o meu dever para com meu povo está fora dos limites do meu paraíso. O pouco que estou a fazer é para honrar a memória de meus pais. Diplomatas que eram, acreditavam que era necessário formar alianças com outras raças para manter uma paz frágil entre os reinos de Draganoth. Foram enganados pela ideia de que ainda haveria esperança em converter os humanos, apesar de seu caráter duvidoso.
Ambos foram vítimas do que se denominaca Alma Escarlate, um grupo da pior estirpe. As notícias chegaram rapidamente. Sequer o consolo de uma morte digna ou indolor foi me dado. Ao que foi me explicado na época, utilizaram meus pais para produzir um tipo de poção macabra. Novamente os humanos provando que não mereciam nossa confiança ou o conhecimento da magia arcana. Lamentei por eles durante muito tempo. Meu luto foi longo e sofrível. Quantos mais de nós deveriam ser sacrificados em nome de uma paz hipócrita? Então tomei a decisão de que das minhas lágrimas os céus não seriam mais testemunhas. Ellidoranne, meu amado berço, a mim não cabia mais. Rumei para o meu destino e é para cumprir minha missão que vivo.
Está na hora dos humanos se colocarem em seu lugar!
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Sapphire, arte por Homero Ricardo |
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